Trump desfaz ordem de Obama e autoriza Keystone XL
Depois de nove anos de controvérsia, o governo dos Estados Unidos autorizou a expansão do oleoduto Keystone XL pela empresa TransCanada.
O trecho aprovado vai da província canadense de Alberta até o estado americano de Nebraska, de onde segue por linhas já existentes para refino no Texas.
A expectativa da TransCanada é exportar 830mil barris diários por quase 2 mil km de extensão. Os gastos também impressionam. Segundo a empresa, a previsão era investir US$ 4 bilhões, mas o atraso na aprovação dobrou a estimativa. A TransCanada já avisou que essa diferença será repassada aos compradores.
Thomas Shannon, vice-secretário de assuntos externos do Departamento de Estado e ex-embaixador no Brasil entre 2010 e 2013, foi quem assinou a liberação do projeto na sexta-feira, 24. Isso porque o secretário de Estado Rex Tillerson se absteve para evitar conflito de interesse. Antes de assumir o cargo público, Tillerson presidiu a petrolífera ExxonMobil por mais de dez anos.
Por ser uma obra que cruza a fronteira internacional, o Departamento de Estado precisava avaliar o interesse nacional. Esse foi justamente o impasse que paralisou o projeto durante toda a gestão Obama.
Seria de interesse nacional importar petróleo de baixa qualidade e alto nível de poluentes no momento em que os Estados Unidos aumentavam a produção doméstica e enfrentavam as pressões climáticas?
Muitos na indústria petrolífera acreditavam que sim. Entre os principais apoiadores do oleoduto estão os irmãos Charles e David Koch, magnatas do petróleo que fundaram o movimento Tea Party e criaram instituições anti-Estado no país. Apelidada de Kochtopus, em referência à palavra polvo em inglês, a rede libertária tem alcance na mídia, na economia, nas esferas legislativas e judiciárias.
A pressão de empresários como os Koch funcionou sobre o Partido Republicano, que tem grande eleitorado nos estados produtores de petróleo ou por onde passará o oleoduto. Nos últimos anos, uma união incomum entre republicanos e sindicalistas defendeu com unhas e dentes o projeto, alegando que ele aumentaria a segurança energética e a oferta de empregos.
O Departamento de Estado, no entanto, afirma que o número de postos de trabalho será inferior a 1% do total no país, sendo 42,1 mil temporários e apenas 35 permanentes. Menos realista, mas inegavelmente mais otimista, Donald Trump contabiliza em 28 mil o total de vagas permanentes.
O apoio dos republicanos foi tão forte que o partido tentou inúmeras vezes vincular a autorização do oleoduto à votação de orçamentos federais.
Contrariando sua base sindicalista, mas alinhando-se com os ambientalistas, o Partido Democrata manteve-se firme na recusa à construção.
O petróleo betuminoso canadense é um dos tipos mais poluentes. Outra questão ambiental, que ainda deve levar mais seis meses até a aprovação estadual, é o fato de o oleoduto passar sobre o aquífero de Ogallala, no estado de Nebraska.
Os democratas também questionavam o desnecessário aumento da importação de petróleo do Canadá quando as refinarias americanas já estavam abarrotadas com petróleo de xisto. De lá para cá, os estoques só fizeram crescer com o excedente da produção em casa e a queda dos preços globais.
Pouco antes da Conferência de Paris para o Clima, em novembro de 2015, Barack Obama decidiu finalmente vetar o Keystone XL. O então presidente disse que o oleoduto não contribuiria para a economia no longo prazo, não reduziria os preços da gasolina, nem melhoraria a segurança energética. “Por outro lado, aprovar o oleoduto diminuiria a liderança global dos Estados Unidos no combate à mudança climática”, argumentou.
Obama pode ter sacrificado a política doméstica em prol da projeção internacional na governança climática, uma conta que coube a Hillary Clinton acertar com o eleitorado conservador.
Donald Trump nunca escondeu sua simpatia pelo oleoduto. Tanto é assim que, ao contrário de afirmações anteriores, decidiu liberar a TransCanada da obrigação de usar aço norte-americano na obra. Uma espécie de “Buy American Steel” para todas as construções de grandes dutos no país. O presidente justificou a isenção dizendo que a regra não vale para projetos em andamento.
A notícia chegou em boa hora para o Canadá. Sem poder vender para a Europa, onde se usa petróleo mais leve, a alternativa hipotética seria exportar para o mercado asiático. Isso exigiria a construção de infraestrutura física entre as reservas nas areias betuminosas e a costa oeste do país. O problema é que a população canadense resiste à construção do oleoduto pelas mesmas razões ambientais que travaram o Keystone XL nos últimos anos.
por Solange Reis